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Foto do escritorQuase Cinema

Atualizado: 29 de mai. de 2023

Tivemos a oportunidade de fazer um intercâmbio em Senegal, mais precisamente em Dakar. Foram encontros inesquecíveis e um reconhecimento de uma cultura que está em nós. Estivemos em contato com a Universidade Cheik Anta Diop. A primeira e mais importante universidade do Senegal e que leva o nome de um dos mais célebres pensadores do país, pudemos entrar em contato com parte da sua vasta obra que nos afetou profundamente. Ali conhecemos pessoas incríveis e jovens extraordinários!


Também trocamos experiências com um grupo de teatro chamado Kadu Yaraaxx. Nossa maior surpresa foi chegar ao espaço deles e descobrir que pesquisam o teatro de Augusto Boal há mais de 30 anos! Utilizando de seus conceitos para trabalhar com a comunidade local, o "acaso" não poderia ter nos reservado um encontro mais potente que esse.


Visitamos a Ilha de Goreé, onde fica a Casa dos Escravos, entreposto de escravos, patrimônio da UNESCO sobre aquilo que deve ser preservado como memória do horror de um tempo que não tem retorno, onde até hoje tentamos curar essa ferida.



Nas ruas, sentimos a vida pulsando e sua proximidade com o nosso povo, da sua hospitalidade, que chamam de Teranga, da sua alegria, da musicalidade, o corpo, a dança, estamos distantes mas ao mesmo tempo muito próximos.

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Foto do escritorQuase Cinema

Atualizado: 25 de mai. de 2023

Outro passo importante em nossa investigação foi conhecer os quilombos de nossa região (Vale do Paraíba). Nos concentramos nos quilombos do litoral norte de São Paulo começando por Caçandoca, passando pela Casa de Farinha e também no Quilombo do Campinho em Paraty, um dos primeiros a receber oficialmente a titulação direto da mão do presidente. Pudemos aprofundar um pouco em toda a complexidade que envolve a titulação da terra e o reconhecimento daqueles que ali permaneceram. Descobrimos que todos esses quilombos que visitamos são de descendentes remanescentes, ou seja, daquelas fazendas que foram abandonadas pelo proprietário. talvez porque os primeiros donos ficaram velhos e seus descendentes não tinham interesse ou mesmo dinheiro em cuidar da terra. Muitas histórias, luta e resistência na procura não apenas de reconhecimento mas também de resgatar a própria origem, já que os negros que aqui chegaram foram-lhes roubadas suas memórias. Talvez o primeiro apagamento dentre muitos outros que viriam a seguir nessa trajetória dolorosa da diáspora africana.


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Foto do escritorQuase Cinema

Cavocando nossas histórias, fomos trás de nossos antepassados, descobri que minha bisavó paterna era provavelmente uma afro-indígena, aquele que na escola aprendemos pelo nome de cafuzo. Fizemos nossos exames de DNA, pra saber a gama da nossa miscigenação e de onde vieram nossos negros, pois esses registros foram paulatinamente apagados da história e da nossa memória. Triste história de travessia que mudou até rota de tubarões de uma costa (africana) a outra (americana).

Perceber esse projeto político de apagamento é muito doloroso. Qual o lugar do negro na atualidade, o que pensam os povos africanos hoje, e os descendentes diaspóricos? Questões que ficam borbulhando... e que ressoa não só em nós mas em muitos artistas e personalidades que de alguma forma tangem (ou focam) este tema em seus trabalhos artísticos e/ou filosóficos.


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